A primeira roubada em que nos metemos!

Pois é… Chegar a Montreal foi bem difícil... Chegar a Montreal não, chegar em casa e sentir que realmente tínhamos chegado a Montreal!

Havíamos contratado um brasileiro para nos pegar no aeroporto e nos levar até a casa da nossa querida amiga que nos recebeu pelos primeiros dias. Tínhamos boas referências do cidadão, uma vez que alguns conhecidos, inclusive essa amiga, já tinham usado os serviços dele, não só para buscar no aeroporto, mas também para transportar alguns móveis e outros tipos de serviços de transporte. Sabíamos que pegar um taxi seria mais barato, mas como tínhamos receio do nosso estado emocional no momento da chegada, achamos mais confortável estar com alguém que falasse a nossa língua e que achávamos que nos trataria com o mínimo de respeito e cumpriria o trabalho. Não queríamos ser enganados e nem queríamos que algum taxista salafrário ficasse dando voltas conosco pra fazer o taxímetro rodar mais e ele levar a melhor. Mas adivinhem o que aconteceu???

Pois bem, nosso vôo chegou com uns 15 minutos de atraso e assim que pisamos em Montreal demos um jeito de ligar para o rapaz e avisar do atraso. Ele nos disse que estava a caminho e que dentro de uns 10 minutos estaria lá. Fiquei meio que desconfiada porque de acordo com o que havíamos combinado ele estaria nos esperando quando desembarcássemos, mas preferi dar um voto de confiança, afinal, era um horário que poderia ter algum engarrafamento e tal... Fomos para o local combinado e ficamos esperando... Nossa amiga havia nos dito que uma amiga dela nos esperaria em casa porque ela estava trabalhando e não tinha como ir abrir a casa para nos receber, então comecei a me preocupar com elas pois poderiam pensar que alguma coisa havia acontecido por causa do atraso. Bem, o carinha chegou para nos pegar uma hora depois de dizer que estaria lá em 10 minutos... Estava completamente exausta de viajar por mais de 24 horas, sem banho e doida pra dormir deitada e não sentada em uma cadeira qualquer. Minhas pernas incharam muito durante a viagem e eu já havia tirado o sapato há muito tempo e estava calçando minhas havaianas que estavam na bagagem de mão.

Quando o sujeito chegou, para minha surpresa, o carro era super velho, caindo aos pedaços, ferrugem pura, bem diferente da propaganda... Era um dia de muito calor, ventava muito e o carro não tinha ar condicionado. Sequer era de quatro portas... Mesmo assim, tentei não criticar a situação... Sentei na parte de trás e meu marido foi na frente. Tinha tanta sujeira dentro do carro que fiquei com vergonha pra ele. Tinha roupa suja, resto de comida, jornal velho... Uma nojeira mesmo. Ainda assim, tentei pensar que o carinha deveria ser algum batalhador que tava tentando ganhar a vida fora do Brasil e que manter um carro em Montreal talvez fosse caro... Evitei pensar que talvez pelos mesmos $50,00 que pagamos poderíamos ter mais conforto. Na verdade eu ainda não sabia o que estava por vim.

Quando ele saiu do aeroporto, nos disse que passaria em um lugar para pegar uma geladeira para a mãe dele, mas que seria no caminho da casa da nossa amiga, não demoraria nada nem desviaria do caminho. Dissemos que não tinha problema, seria muito bom pra ver a cidade. Ele ficou conversando conosco, perguntou se estávamos chegando de mudança, se queríamos ficar muito tempo e em seguida começou a falar mal da cidade, do país, das pessoas... Disse que está aqui há 20 anos mas que quer voltar porque bom mesmo é no Brasil e blá blá blá... Achei de muito mal gosto da parte dele ficar falando essas coisas pra pessoas que chegaram há algumas horas, ainda mais ficar falando um monte de coisas sem fundamento, sem fatos concretos. Sei que o tempo foi passando, já tinha uma meia hora que estávamos rodando e nunca chegava. Então ele perguntou se gostávamos de cachorro-quente, pois ele conhecia um ótimo, que poderíamos passar por lá e comer alguns. Dissemos que preferíamos ir pra casa, que nossa amiga havia deixado almoço pra gente. Depois de uma hora mais ou menos, ele parou o carro em uma grande loja que parecia um supermercado e nos convidou para descer que ele iria nos levar até o tal cachorro quente. Ele saiu do carro, deixou tudo aberto com nossas coisas lá dentro e foi andando. Disse ao meu marido que ficássemos no carro, pois ele poderia “nos perder” lá dentro, sumir de lá com todas as nossas coisas no carro e nunca mais teríamos noticias nem dele nem das nossas bagagens. Voltamos pro carro e ficamos sentados do lado de fora, numa sombra. Tava muito quente pra ficarmos dentro daquele carro empoeirado e quente, parado num estacionamento debaixo do sol escaldante. Passaram-se uns 20 minutos quando vimos o cidadão voltando em nossa direção com uma caixa na mão. Mas ele não tinha ido pegar uma geladeira? O que ele fazia com uma caixa pequena? Aí ele disse que eram alguns cachorros quentes e refris, que era para comermos e deixar um pra ele que ele já voltaria com a tal geladeira! Bom, era tarde demais: não sabíamos onde estávamos (hoje sei que era no Costco!), não fazíamos idéia de como sair daquela situação ridícula, não tínhamos como ligar pra nossa amiga nem como tirar nossas coisas do carro do maluco e nem sabíamos onde poderíamos pegar um taxi! Ele mentiu dizendo que “pegaria” uma geladeira quando na verdade ele estava comprando uma geladeira! Sei é que ficamos lá plantados esperando a tal geladeira por quase uma hora! Quando saímos de lá ele começou a falar que ainda teria que voltar no aeroporto ainda naquele dia pra buscar a mãe que tava chegando do Rio aí saquei que a mentira era ainda maior, a tal da geladeira era algum outro trabalho que ele tinha pegado ao mesmo tempo do nosso transporte! Tava aproveitando pra ganhar duas vezes!

Quando achamos que estávamos chegando, ele parou o carro e disse que desceria rapidamente pra deixar a geladeira e já voltava. Estávamos nos sentindo presos, com medo de fazer ou dizer alguma coisa porque nossas coisas estavam numa carreta engatada no carro, então preferimos ficar calados e concordar com o que ele dizia. Acontece que ele “largou” o carro em uma esquina de um parque e saiu com a geladeira. O vimos sumir de nossas vistas empurrando um carrinho de entrega com a geladeira em cima...

Pensem no que poderia acontecer de pior nessa hora? Pois é, aconteceu... A polícia chegou! Como o carro estava largado na rua, numa esquina e atrapalhando a passagem dos outros veículos, eles vieram! Tentamos “desenrolar” lá com o policial, explicar a situação em que estávamos. Dizemos que não tínhamos as chaves do carro e nem tínhamos como falar com o motorista. Aí, “seu puliça” ligou a sirene e logo o maluco veio de lá correndo empurrando o carrinho vazio!

Bem, finalmente ele nos deixou onde deveria... Nosso vôo chegou às 11:20 e chegamos na casa da nossa amiga 15:30! O trajeto normal do aeroporto a casa dela é de uns 30 minutos!

Fica a dica pra quem virá: pegue um taxi no aeroporto. Com certeza o taxista não vai pedir pra “buscar uma geladeira pra mãe dele”!

E então... Viemos!


Tiremos as teias de aranha, aspiremos a poeira e coloquemos a casa em ordem! Estamos em Montreal e felizes que só! Agora que a vida entrou nos eixos posso retomar às minhas atividades blogueiras!

Podem deixar que vou contar tudo sim! A começar pela nossa saída de Niterói em abril.

Foi o encerramento de um ciclo. Foi aquela sensação de missão cumprida... Parece que tudo que nós tínhamos que ter feito lá nós fizemos e daquele momento em diante nossa vida seria outra, completamente diferente, sem repetições. Fiquei muito emocionada em deixar meus amigos, que foram poucos, mas eternos. Sinceramente, deixei foi uma família pra trás. Lá eu fiz novos pais e novos irmãos que levo no meu coração. Fiquei triste em deixar lá os amigos que virão, mas ao menos esses eu sei que estarão aqui também e viverão perto de mim.

A melhor parte da despedida foi quando já estávamos no carro e nosso amigo me pediu os chinelos que eu calçava. Sem saber o que ele faria, eu entreguei. Ele os sacudiu, bateu um no outro e disse: “É pra que você vá em paz e não leve com você nem a poeira debaixo dos seus pés!” Foi a forma dele me desejar uma vida nova, diferente, muito melhor! O condomínio em que morávamos era muito problemático e ele desejava que vivêssemos em um lugar de paz e onde sonhamos por muito tempo. Bem diferente daquele lugar...

Fizemos uma viagem longa, cansativa, o carro estava muito pesado. Estávamos parecendo um grande caracol com a casa quase toda nas costas! É que seria difícil vender nossas coisas, então preferimos mandar tudo pra casa dos nossos pais. Foi bom, porque como é tudo novinho, minha mãe e minha sogra se deram bem! Viajamos a noite toda, de Niterói à Vila Velha. Dividimos a direção, paramos um pouco pra dormir, e na minha cabeça só tinha um assunto: é a ultima vez que estou passando por aqui e fazendo essa viagem...

Nossa preocupação ao chegar a Vila Velha era que o Consulado enviasse os passaportes para Niterói. Havíamos enviado e-mail e telefonado pra informar da troca de endereço, mas do jeito que as coisas se passaram nos últimos meses, estávamos era com muito medo de dar alguma coisa errada!

Olha, vou te contar uma coisa... Poucas coisas na minha vida me deixaram tão emocionada como receber aquele envelope... Estávamos só meu pai e eu quando o carteiro chamou. Quando peguei o envelope, chorei tanto que nem consegui explicar o que tava acontecendo! Meu pai achou que estava recebendo algum tipo de negação do Consulado!

Os próximos passos eram contratar o seguro de viagem (contratamos o GTA), transferir o dinheiro pra cá, encerrar a conta no banco, vender o carro.

Ah, essa parte... Vender o carro... Foi muito difícil... Saímos em um dia, bem cedo, no horário que as lojas abrem. Fomos a umas 10 lojas pela manhã e a resposta era sempre a mesma: não estamos comprando. Teve um cara de pau que disse que não se interessava, mas se estávamos desesperados pra vender, ele pagava a metade do preço. Que raiva! Que cara de pau! Achamos melhor deixar pra nossa família tentar vender nos próximos dias. Foi bom esperar porque levou alguns dias, mas conseguimos o valor que queríamos.

Acabamos alterando a data da viagem de 27 para 31 de maio porque um primo havia marcado o casamento para o dia 28. Foi ótimo rever algumas pessoas que não via já fazia um certo tempo!

Chegamos aqui no dia 01/06. Contratamos um brasileiro para nos buscar no aeroporto e nos levar na casa da amiga que nos recebeu pelos primeiros dias, mas essa história é longa e eu quero usar um único post pra falar sobre isso...

Até logo!

Sra. Incrível

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