“Vous êtes acceptés”

Foi tão emocionante ouvir isso quanto “Eu te amo. Quer casar comigo?”. Nos dois casos tive aquela sensação de “Eu já sabia...”.

Depois de passar uma noite “daquelas”, com direito a goteira em telhado de plástico que mais parecia martelada (me lembrei daquele episódio do pato Donald!), falta de eletricidade seguida de muito calor e mosquitos e (óbvio!) insônia por ansiedade, pedimos para trocar de quarto. Ficamos no último andar, bem em frente ao recuo da pista do aeroporto, o que quer dizer que acompanhamos de pertinho todos os vôos que decolaram de Congonhas naquela manhã, com direito a todo o barulho dos motores!

Chegamos ao prédio do BIQ com duas horas de antecedência (Sr. Incrível é absolutamente neurótico com horários, ainda mais em São Paulo...) e, ao descer do táxi, encontramos um casal de Curitiba que havia acabado de sair com o CSQ. Conversamos um pouco, fomos até a portaria conferir se nossos nomes estavam na lista (o do casal não estava, pois com toda a pressão do momento esqueceram de confirmar a entrevista após receber o e-mail com a convocação) e saímos para comer alguma coisa. Sr. Incrível estava tão nervoso que ficou o dia sem comer. Sentamos em uma padaria que fica no quarteirão anterior e lá ficamos até faltar 40min. da hora marcada.

Quando subimos, tamanha foi a nossa surpresa quando o próprio Sr. Leblanc nos recebeu na porta do escritório com um sonoro “Bonjour”!
Nos encaminhou para a sala de entrevistas, se apresentou e foi logo confirmando nossos nomes. Não deu tempo nem de tirar os documentos da mochila, o que pretendíamos fazer na salinha de espera. Estávamos 40min. adiantados e aparentemente ele já estava doido querendo encerrar o dia, pois a nossa era a sétima do dia. Ele confirmou nossos nomes completos, perguntou se éramos casados e pediu as certidões de casamento, nascimento e os passaportes. Explicamos que não tínhamos as certidões de nascimento porque quando nos casamos o cartório recolheu. Ele disse que sabia que isso acontecia aqui no Brasil. Aproveitamos para colocar o francês em prática e dissemos que tínhamos a intenção de provindenciar novas, pois no Québec a certidão de casamento não será aceita em algumas ocasiões. Ele concordou, comentou alguma coisa e começou a conferir nossos documentos.

Perguntou como se pronuncia no nome do Sr. Incrível aqui no Brasil (no francês os nomes próprios sofrem alteração na pronúncia, digamos que são “afrancesados”...) e para quebrar o gelo, o Sr. Incrível aproveitou e perguntou como se pronunciava o sobrenome dele também. Sr. Leblanc explicou e aproveitou para perguntar qual era a origem do sobrenome e aí o gelo estava quebrado. Quando veio confirmar o meu nome, disse que era francês e não tinha diferença de pronúncia.

Em seguida ele pediu o diploma da faculdade do Sr. Incrível, elogiou bastante as notas, e verificou também seu certificado de conclusão do 2º grau técnico. Depois pediu o meu de 2º grau. Enquanto conferia, ele ia fazendo umas anotações na DCS que havíamos enviado e digitando algo no computador. Pediu a carteira de trabalho do Sr. Incrível, conferiu a experiência declarada e perguntou sobre o trabalho atual. Ele explicou que atualmente trabalha por contrato (PJ). Aproveitou para comentar que a empresa em que trabalha tem uma filial em Montreal, o que o Sr. Leblanc adorou, mas frisou que lá devemos avaliar propostas de outras empresas, não se acomodando a essa em que já trabalha, o que em um primeiro momento realmente seria mais prático. Sobre o contrato de trabalho, ele apenas perguntou com que frequência ele era renovado e mais nada! Esse era o nosso maior medo, pois embora não houvessem problemas com documentação, responder isso em francês e sob pressão seria, no mínimo, complicado... O Sr. Incrível presta serviço com Pessoa Jurídica, o que é muito comum aqui no Brasil na área dele. Como levamos todos os impostos, certidões negativas, notas fiscais, tudo relativo à empresa, achamos que ele poderia questionar alguma coisa e talvez teríamos algum problema, mas não! Ele não questionou absolutamente mais nada!

Me perguntou sobre meu último trabalho, expliquei que ainda trabalhava para a mesma empresa, só que agora por demanda, sem comprovação formal. Novamente ele não questionou nada e eu também não prolonguei o assunto. Aí veio a famosa pergunta “por que o Québec?”. O Sr. Incrível começou a responder e de repente, no meio da resposta, travou! Ficou alguns segundos em silêncio aí eu continuei a responder. Havíamos combinado que não usaríamos a expressão “qualidade de vida” e tentaríamos explicar o que isso significa para nós. Foi o que fizemos.

Ele aproveitou para perguntar o que o sr. Incrível pode oferecer para o Québec, o que faria o Québec querê-lo. Nesse momento, eu achei que estava tudo perdido, pois responder esse tipo de pergunta mesmo em português é complicado... o nervosismo era tamanho que ele entendeu a pergunta, mas não sabia como responder. Citou as tecnologias com que trabalha e pegou as ofertas de trabalho e uma pesquisa salarial para a área de TI que ele havia feito. Sr. Leblanc novamente só passou o olhos em tudo e disse que, mesmo bem qualificados, devemos nos preparar ainda aqui no Brasil pensando em experiência profissional, salário, qualificação e itens diversos, de modo que lá possamos concorrer com o que há de melhor no mercado de trabalho. Concordamos plenamente com esse ponto, visto que os investimentos ainda aqui para melhorarmos nosso curriculums em alguns pontos serão definitivamente mais fáceis e baratos que lá, onde primeiramente não teremos empregos para custear essas “melhorias”.

Logo após, ele se voltou para mim e perguntou quais eram meus planos e o que havia pesquisado. Expliquei como era meu trabalho e mostrei um álbum fotográfico que levei. Ele ficou surpreso com as fotos da parte da festa, aí eu expliquei que aqui no Brasil existe uma tradição de grandes festas de casamento. Em seguida, mostrei as ofertas de trabalho que levei e expliquei que poderei trabalhar com a mesma coisa lá, porém o mercado é mais voltado para estúdios que eventos sociais.

Ele nos parabenizou pela organização e pelo planejamento, disse nossa nota foi 77(precisaríamos que fosse 68, pois nos enquadramos nas normas antigas). Enquanto ele digitava umas coisas no computador, minhas mãos estavam em cima da mesa e o Sr. Incrível segurou minha mão direita. Quando olhei para o lado, ele estava muito vermelho e a mão estava gelada. Me apavorei porque achei que ele estava passando mal, mas ele havia percebido que havíamos passado!
Foi então que ouvimos o famoso “vous êtes acceptés”. Nessa hora, não me contive e comecei a chorar! Só conseguia dizer “merci, merci, merci” e ele segurou a minha mão gentilmente e disse que não precisava agradecer! O Sr. Incrível disse que esperamos por isso há uns 5 anos!

Sinceramente, depois disso, não me lembro de mais nada que ele disse! Fiquei tão emocionada que não consigo me lembrar! A única coisa que lembro é que ele pediu para conferirmos nossos nomes no CSQ, meu marido conferiu e guardou. Aí ele disse que precisava assinar primeiro, antes de guardarmos!

Tudo durou uns 40 minutos, mas tive a sensação que foram apenas 15. Tem alguns pontos importantes que gostaria de listar:

- O Sr. Leblanc é extremamente gentil e educado. Já soubemos de história onde o entrevistador até ameaçou expulsar da sala o acompanhante por responder às perguntas dirigidas ao requerente principal, mas ele se comportou de forma extremamente amável conosco.

- Apesar de apresentarmos comprovantes de estudos de inglês (350h com a nossa última professora) ele não nos cobrou isso. Talvez por termos muitas horas de estudo com uma professora particular, e o Sr. Incrível trabalhar em uma área onde o Inglês é muito necessário.

- Ele não foi exigente com os documentos da empresa do Sr. Incrível. Apenas analisou o contrato de prestação de serviços dele, sem outros questionamentos. Lembrando apenas que junto com a DCS, já havíamos enviado todos os documentos da empresa, comprovantes de impostos pagos, imposto de renda e certidões negativas de débito federais e estaduais.

-Ele não perguntou se tínhamos pesquisado local para morar, bairro que escolhemos, etc. Nem mesmo analisou as planilhas de “primeiros passos ao chegarmos” nem dos gastos iniciais que havíamos levado. Apenas disse que nas cidades menores como Ville de Québec, Trois Rivières, Laval também existem muitas oportunidades para quem é de TI.

Agora que já temos nossos CSQs, só falta um documento que devo solicitar na Polícia Civil em Vitória, pessoalmente, para que possamos enviar o federal. Estou vendo a maneira mais “fácil” de fazer isso, se é que vai ser tão fácil assim...

Sra. Incrível

2 Responses
  1. Unknown Says:

    Parabéns!!!
    Agora é mais uma etapa de sofrimento esperar os benditos vistos!!!
    Bjs!!


  2. Então... alguma novidade incrível?


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